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domingo, 4 de setembro de 2011

Votação para final da promoção: Voo do Pegasus

Passados esses dias de promoção, tivemos muitos textos excelentes e não pude escolher um para ser o vencedor.
Segue abaixo os 3 melhores textos da promoção onde VOCÊ irá decidir qual foi o melhor.

PS: A votação permite que você vote apenas uma vez. Então não adianta querer votar inúmeras vezes que não irá funcionar ;)

Votação até as 23:59h do dia 10/09/2011 (VOTAÇÃO ENCERRADA!!! - Em breve resultado)

Escolham o melhor:

Texto 1


Olha só, eu estou me sentindo muito ridícula escrevendo isso. Francamente, esse negócio de “meu primeiro dia”, “minhas férias”, etc, é tão sexta série. Sério. Remete aos meus tempos no colégio interno, quando a Irmã Fitzgerald obrigava todas nós a escrevermos uma redação dessas no começo de cada semestre; considerando que todos os semi-deuses são DISLÉXICOS, imagina como essa era uma experiência produtiva e gratificante para mim.

É, Senhor D. Isso foi sarcasmo. Já que o senhor disse que a minha punição por ter feito um poema sobre as suas bochechas era redigir esse negócio, espero que engula cada gota de ironia que eu puser aqui. Foi escrito com muita dedicação, já que eu preciso me certificar de estar usando as palavras certas porque, como eu já disse ali em cima, EU SOU DISLÉXICA e, infelizmente, ainda não aprendi a escrever em grego. Aliás, isso foi uma grande falha de vocês deuses, viu. A gente poder ler em grego, mas não saber escrever. Muito obrigada pela falta de consideração.
Certo. Estou saindo do tema da redação. Isso provavelmente vai me render outra tarefa tão agradável como essa para mim, mas estou pouco me lixando. Quer saber como foi o meu primeiro dia nesse acampamento? Beleza,vou contar.

Meu primeiro dia no Acampamento Meio-Sangue foi um INFERNO. E não da forma divertida, como, “olá, garotinha, você é filha de Hades! Agora pode sair por aí invocando espíritos e zumbis”. Não, foi o inferno metafórico que deixa a gente com vontade de se matar. Ou de matar alguém. No meu caso, as duas coisas.
Para começar, estávamos eu e o meu irmão gêmeo acampando com nossa mãe… Certo, a gente tava mais pra “escalando as Montanhas Rochosas” do que acampando nelas, né, mas vai dizer isso para a mamãe.
Enfim, estávamos nós nas Montanhas Rochosas, munidos de mochilas, comida enlatada, fósforos e da viola da mamãe - porque ela pode estar fora de turnê, mas não pode passar um dia sem tocar, senão ela morre - quando vejo uma mulher-pássaro de aparência realmente horrenda vindo na nossa direção. Horrenda mesmo, sabe. Tipo Orcs do Senhor dos Anéis.

Nós três estávamos descendo um caminho bem estreito da montanha, e eu gritei “OH, MEU DEUS, O QUE É AQUILO?”. E o Cameron fala que aquela era a águia mais feia que ele já tinha visto. Mamãe teve a reação lógica, que foi de fazer a gente correr dali para a caverna mais próxima; só que aí a mulher-pássaro já tinha a companhia de outras dez iguais a ela, o que significa que a revoada delas conseguiu arrancar umas lascas da gente antes.

Resumindo a história, mamãe disse que elas eram harpias. E eu, “Harpias, tipo, aquelas da mitologia grega?”, e ela “Exatamente essas”. E o Cameron ficou perguntando do que a gente estava falando, porque o máximo que ele sabe de mitologia grega é aquilo que conseguiu absorver jogando God of War.
Mamãe fez a gentileza de explicar para a gente que sabia que chegaria o dia em que nós não estaríamos seguros com ela, que ela vivia levando a gente com ela para as turnês na esperança de despistar os monstros, etc, etc, e é claro que nós não estávamos entendendo bulhufas. No fim das contas, as harpias estavam quase entrando na nossa caverna quando ela comentou que já havia se preparado para aquele tipo de situação. O que fez menos sentido ainda, porque ela só fez pegar a viola e para tocar e cantar uma música.

Não vou transcrever a letra aqui. É muito embaraçosa. Só vou dizer que a música era mais melosa do que todos os singles românticos da lista de country do Billboard, inclusive aqueles que a minha mãe emplacou lá.
De qualquer forma, ela tocou a música, e na última nota, quando as harpias já estavam literalmente bafejando em mim, pof! Em um clarão dourado surgem umas dezenas de meninas vestidas de armadura.
Só depois soube que elas eram as Caçadoras de Ártemis. Na hora eu só sabia que elas estavam botando as harpias para correr ao mesmo tempo em que empurravam a mim e ao meu irmão para cima de uma carruagem prateada.

Quando eu dei por mim, tchanran! Já havíamos atravessado metade do país voando pelo céu, e estávamos aterrissando num campo de plantação de morangos. Ou algo assim. Claro que ninguém se dignou a responder nenhuma das minhas dúvidas durante todo o trajeto, e o Cam só conseguia ficar dizendo “Que maneeeeeiro” o tempo todo.
Não era nem meio-dia quando as Caçadoras chutaram a gente da carruagem na frente da árvore gigantesca lá da fronteira do acampamento, dizendo que já haviam “pago a dívida com o pai das crianças”, e que agora iam embora. Mamãe agradeceu, toda felizinha, como se aquilo fosse uma coisa NORMAL, e nem titubeou quando a caçadora morena mal-encarada da lança apontou para o Cam e disse que “Ele deveria ir para o outro acampamento” antes de virar as costas e sumir.
(Deviam ter explicado essa parte melhor, aliás. Ia me poupar muita dor de cabeça.)

E aí apareceu um HOMEM-BODE, do NADA, pegando a gente pelas mãos e puxando sabe-se lá para onde, enquanto a mamãe dava tchauzinho lá do lado da arvore, dizendo para a gente se comportar e mandar notícias. E logo depois, nós chegamos aqui.
Vou usar este momento para dizer que isso de enfiar os recém-chegados ainda não batizados lá na casa de Hermes é uma péssima idéia, Senhor D. Péssima idéia. Eles só não furtaram a minha alma porque não é da alçada deles esse negócio de mexer com o espírito dos outros.

Mas, prosseguindo. Para continuar a tradição das aparições que me davam cabelos brancos, surge um centauro para nos explicar a conversinha padrão de “vocês são semi-deuses, precisam passar uns tempos aqui para aprenderem a sobreviver, aguardem um instantinho ali na casa de Hermes enquanto os seus pais não mandam um alô”. Nessa hora eu já estava suja de sangue, toda rasgada, meu irmão tinha uma mancha rocha do tamanho de uma bola de futebol nas costelas. Estava a ponto de explodir no momento em que aqueles malucos da casa de Hermes começaram a ser invadidos por uma horda de filhos rábicos de Ares.
Quando menos espero, estou tendo que lutar pela minha vida, novamente, sendo que a única arma que tinha disponível era uma lata de salsicha em conserva que não havia caído/sido afanada da minha mochila durante o episódio das harpias/Hermes.

Acho que o senhor lembra o desfecho desse evento, Senhor D. Lembro muito bem que o senhor ficou assistindo a coisa toda sem mover um dedo (nem quando aquele retardado do Lionel Medina enfiou o tridente idiota dele no meu ombro). Obrigada.
Felizmente, meu irmão, que se importa com o meu bem estar, conseguiu atirar uma flecha na mão do Medina e salvar o que restava da minha clavícula antes dos monitores das casas pararem a confusão toda.
É óbvio que, depois do show de pontaria do meu irmão (e depois de eu ter pulado no Medina e enchido ele de porrada, né, mas vamos ignorar essa parte), nosso pai resolveu se manifestar com todo o seu estilo. Os raios se sol focaram na gente por um instante, como um holofote, e quando eu consegui ver novamente, estava completamente curada dos meus (inúmeros) ferimentos, e segurando uma lira dourada.
Cam saiu da luz igualmente curado e segurando um arco dourado. Sabe, tipo Caverna do Dragão. Só puxar a cordinha que ele carrega e atira. Enquanto isso, eu não sei tocar lira.
SE ISSO NÃO É FAVORITISMO PATERNAL, EU NÃO SEI O QUE É.

Mas, enfim, ficou claro que nós éramos filhos de Apolo, e tal, então Quíron nos encaminhou para nossa casa correta, onde fomos recebidos com muitos abraços e músicas em nossa homenagem. E na hora do jantar, continuamos sendo o assunto do dia, e as pessoas começaram a pedir para eu tocar a maldita harpa como entretenimento, já que ninguém acreditava quando eu dizia que não sabia tocar.
Depois a gente foi para a casa, com um monte de meninas de Afrodite pulando em cima de Cam até eu empurrá-lo pela porta. Para completar minha onda de sorte, não havia duas camas extras, e eu tive que dividir uma com ele.
Eu não preguei o olho a noite toda, especialmente depois que falei que era muitíssimo injusto papai dar uma arma para ele e um instrumento inútil para mim. Além de machista. Cam só riu e disse que as coisas aconteceram assim porque “eu sempre vou te proteger, Charlie”.
Argh.
E assim foi o meu primeiro dia no Acampamento Meio-Sangue, Senhor D. Espero que a leitura tenha sido bastante enaltecedora. 
Charlotte Walker
Casa de Apolo, segundo ano

Texto 2 


Chegada

Finalmente chegamos lá!Mais de um mês havia se passado desde que eu; um garoto alto, gordinho, de cabelos escuros e curtos, de olhos verdes e desengonçado que atende por Samuel; e Marissa; uma garota magra, linda com cabelos compridos e ruivos de olhos azuis; abandonamos o orfanato em que vivíamos desde... sempre!E esse mês foi bastante conturbado: começou com o meu vizinho adolescente esquisitão Terry Swamp matando uma freira/monstro e gritando pra nós corrermos com ele senão a gente ia morrer!
Depois desse susto inicial, ele começou a explicar para nós a situação: éramos semideuses, monstros queriam nos ver mortos, tínhamos que ir para um acampamento e tal. Em condições normais eu chamaria um hospício, mas eu tive provas suficientes com a freira/monstro, sem contar que Terry tirou o boné preto que sempre usava e os tênis surrados e disse:

- Eu sou um sátiro!-disse mostrando chifrinhos e cascos onde deveria haver pés.
- O quê?-Marissa exclamou sem entender.
-Sátiro?Um servo de... de Dioniso?-perguntei.
-Isso mesmo!E eu tenho que levar vocês com urgência para o Acampamento Meio-Sangue para ficarem protegidos, receberem treinamento e conhecerem outros semideuses!
-Se nós somos semideuses, quem são nossos pais?Sabe... a gente nunca soube quem eram os nossos pais... -Marissa suspirou.
-Isso eu não sei... mas vocês descobrirão lá no Acampamento!-Terry disse animado.

Desde então nós passamos esse mês todo fugindo de mais e mais monstros ate que finalmente chegamos!
Era um lugar lindo, uma área verde enorme, pomares, bosques, um lago gigante e várias construções que eu não sabia identificar!
-Venham comigo!Eu tenho de apresentar vocês ao Sr. D, então temos que ir à Casa Grande e...
Então eu vi... dentro de minha cabeça eu vi fogo e sangue, ouvia pranto e gritos e uma risada fria e maligna, então o fogo me alcançou... e então tudo se tornou nada...

-Ele está bem?O que aconteceu?Contem-me!
-Fica calma, Marissa. O Senhor Quíron sabe o que faz!
Eu senti um líquido doce e fresco descendo por minha garganta... tinha gosto de suco de uva...
De repente abri os olhos e vi quem estava presente. Terry e Marissa estavam ao meu lado junto com um senhor de barba sentado em uma cadeira de rodas. Além disso, havia um menino de cabelos lisos e castanhos e olhos verdes, outro garoto mais jovem com cabelos negros e olhos escuros, uma garota loira e bem bonita e um sátiro que lembrava Terry, mas parecia mais velho.

-Onde estou?O que aconteceu?- perguntei.
-Não se preocupe você está em boas mãos. Estamos na Casa Grande do acampamento, eu sou o Sr.Quíron o diretor de atividades do Acampamento Meio-Sangue. Estes são Percy Jackson (o menino de olhos verdes), Nico di Angelo (o garoto de olhos escuros, que me era bem familiar), Anabeth Chase (a garota loira) e Groover Underwood (o sátiro).
-Olá... -eu disse. De repente Marissa se jogou sobre mim e começou a gritar.
-Seu idiota!Como você inventa de desmaiar só pra me deixar preocupada e...
-Calma!Calma!-eu exclamei.

De repente Percy interrompe e pergunta:

-Sr. Quíron, por que o senhor nos chamou aqui? É algo sobre a profecia?
-Infelizmente sim, Percy. O primeiro verso da profecia se cumpriu no exato momento em que Samuel pôs os pés no acampamento.
-Então ele...
-Sim, provavelmente... mas vamos falar disso depois. Samuel, você consegue se levantar?
-Acho que sim... mas...
-Então Terry, mostre-os o Acampamento!
-Sim, senhor!

Então Terry levou a mim e Marissa para fora da Casa Grande e começou a nos mostrar os lugares do Acampamento. Os estábulos (pégasus!), a arena de treinamento, o refeitório, o anfiteatro e então os chalés.

-Nossa!Que lindo!-Marissa suspirou.

Eram vários chalés, cada um mais diferente que o outro. Uns eram lindos, outros eram medonhos. O movimento de semideuses era intenso e a animação era grande.

-Vocês vão ficar no chalé numero 11, o de Hermes, até que seus pais deuses os reclamem-explicou Terry.

Então ele nos levou ate um chalé de acampamento normal, velho, com a pintura descascando e um caduceu acima da porta. Lá dentro havia muitas pessoas e o barulho era alto.

-Travis!Connor!-chamou Terry.
-E aí, Terry!Há quanto tempo?-falaram ao mesmo tempo dois rapazes idênticos, loiros e de narizes finos e compridos.
-Olá!Bem, quero lhes apresentar Samuel Pine e Marissa Arch. Eles são indeterminados ainda, então cuidem bem deles!
-Pode deixar!-falaram os gêmeos em uníssono e com um sorriso maroto.
-Então Samuel e Marissa, eu vou ter que deixar vocês por enquanto para reportar a chegada de vocês!Passar bem. Até mais tarde!-e saiu.
-Bem, acomodem-se!Sejam bem vindos ao chalé de Hermes, o deus dos viajantes e tal!Até que sejam reconhecidos por seus pais podem ficar aqui!Nós somos Travis e Connor Stoll, os responsáveis por este chalé. Qualquer coisa,podem nos perguntar!

Nós então passamos o resto da tarde conversando com o pessoal do chalé de Hermes, eles nos ensinaram várias coisas (como ter cuidado com o chalé de Ares, sobre os filhos dos Três Grandes e as aventuras que tiveram nos últimos tempos).
Então, ao anoitecer, eu e Marissa fomos dar um passeio. Andamos pelos terrenos do acampamento e sentamos na beira do lago.

-Então, o que você achou?Sobre tudo, o acampamento, deuses?-perguntei.
-Eu estava bem nervosa e tudo mais, com aqueles monstros, mas quando cheguei aqui achei tudo maravilhoso!Tirando a parte em que você desmaiou...
-Falando nisso, o que aconteceu enquanto eu estava desmaiado?
-Bem você ficou gritando “fogo” e “trevas”, e estava queimando de febre. Então Terry o levou ate a Casa Grande onde estava Quíron.Quando ele ouviu a historia ,ficou preocupadíssimo e começou a tratar de você e mandou Terry chamar Percy,Anabeth,Nico e Groover.Além disso,Nico parecia bastante perturbado com isso...
-Entendo... eu sei que sonhei com algo enquanto estava desmaiado,mas não lembro com o que...e que profecia era aquela que eles tanto falavam?
-Eu não sei, mas pareciam bastante preocupados.

Nesse momento uma linda garota emergiu no lago e começou a cantar. Era ruiva como Marissa e tinha uma voz doce e suave.

-Quem é aquela?-perguntei.
-É uma náiade!-respondeu Percy, que apareceu do nada atrás de nós. -Essa especificamente é Ana...cuidado com ela,gosta de seduzir semideuses...

Marissa de repente tomou um ar mais serio e ficou calada.

-Ah!Aí estão vocês!-apareceu Quíron, mas... ele era um cavalo?!Tinha uma parte humana e uma parte cavalo... é um centauro,pensou Samuel.
-Você é um centauro?-perguntou Marissa, timidamente.
-Sim, sim. Eu sou-respondeu Quíron com um ar anima-Nós temos que ir ao refeitório!Está na hora do jantar!

Então uma luz cercou Marissa, tudo ficou claro e de repente havia um holograma de um sol dourado sobre ela.
Percy ficou tenso.

-Uma filha de Apolo... como na profecia...-falou Quíron.-Marissa,depois do jantar você vai pegar suas coisas e se mudar para o chalé numero 7,o chalé de Apolo.
-Então eu sou uma filha de Apolo?-Marissa perguntou exasperada.
-Sim, eu lhe apresentarei aos outros no Refeitório.

Então todos foram ao refeitório. La havia varias mesas,uma para cada chalé,e uma fogueira enorme no centro.

-Antes de comerem, vocês devem oferecer um pouco de sua comida para seus pais, jogando na fogueira e fazendo uma prece. Marissa,você pode agradecer o reconhecimento de seu pai e Samuel,você pode pedir o seu reconhecimento.Pra pedir a comida,basta falar o que vocês querem que ela aparecerá.Eu irei para a mesa de Poseidon,bem...boa sorte e até mais.-disse Percy.

Marissa foi para a mesa de Apolo e eu fui para a mesa de Hermes, com o sentimento de que fui abandonado e que estava só. Fiz meu pedido e segui com a fila para fazer minha oferenda.Joguei um pedaço apetitoso de carne na fogueira e pedi:

-Quem quer que seja, pai ou mãe, agradeço a segurança e peço ajuda. -falei baixinho.

De repente senti uma sensação estranha de frio e calor, ao mesmo tempo. Uma luz brilhou sobre mim e todos olharam.E era exatamente meia noite quando olhei para cima e vi um elmo negro brilhando acima de mim.E Quíron exclamou:

-Conheçam Samuel Pine, filho de Hades!
Um trovão ecoou alto e a fogueira ganhou um tom vermelho vivo.

Texto 3 


– Veja, ele está acordando.

Minha cabeça doía, minha visão estava embaçada, eu não lembrava quem eu era nem onde eu estava. Será que eu havia morrido? Não, ouvi alguém falar claramente. Estaria em um hospital? Talvez.
Tentei me levantar.

– Não se levante. Você ainda está fraco. – Não reconheci a voz, não parecia ser de ninguém que eu conhecia.

Abri o olho. Minha visão estava turva, mas consegui ver a silhueta de um homem alto com cabelos cacheados marrom. Ele me estendia um copo com um líquido verde, minha cor favorita.

– Beba, vai fazer você se sentir melhor. – Sua voz era bondosa e mostrava preocupação.
Peguei o copo com certa dificuldade, ele parecia pesar uma tonelada em minha mão. Será que eu estava com uma doença grave? Não tinha nenhum soro em minhas veias e o homem na minha frente não parecia ser médico. Pelo contrário, ele estava natural demais, nem camisa ele usava. Afastei os pensamentos e bebi o líquido, esperando que fosse um remédio com gosto horrível, mas era muito bom, bebi o copo todo em apenas alguns goles.
– Que gosto tinha? – Perguntou uma voz distante, que não era do homem sem camisa, mas que eu reconhecia vagamente.
– Era gostoso, não parecia nada que eu já tivesse bebido antes, mas tinha um gosto semelhante à coca-cola misturado com chocolate.
– Interessante. – Retrucou o mesmo homem.

Novamente a voz me incomodou, tinha quase certeza que eu reconhecia. Ergui-me na cama. É incrível como eu tive uma melhora tão rápido apenas por causa daquela bebida estranha. Assim que me sentei na cama olhei ao redor. Vi várias camas iguais a minha, armas – espada, arco e flecha e alguma coisa redonda que não reconheci –, escudos, pilhas de lençóis limpos, olhei para as patas do carneiro que estava em pé, na posição que devia estar o homem que falou comigo. Epa! Carneiro!
Gritei.

– Qual o problema, meu jovem? – Perguntou o homem sem camisa
– É impressão minha ou àquele animal estava conversando comigo?
O carneiro soltou um ganido, acho que ele estava nervoso.
Bem, talvez um animal não goste de ser chamado de animal, mas é difícil pensar nas coisas antes de falar, maldita hiperatividade.
– Sim, você tem algo contra animais falantes?
Depois que ele fez essa pergunta, me vi obrigado a olhar para ele, analisá-lo.
Bom, você não vai gostar de saber o que eu vi: um cavalo! Sim, eu estava em uma sala com um cavalo e um carneiro falante. Ah! Entendi. Eu estava em um hospício. Resolvi entrar no jogo deles.
– Então, eu estou em um zoológico de animais falantes? – perguntei mais relaxado, com a certeza que estava em um hospício.
– Não, meu rapaz. Peço desculpa pela minha aparência, geralmente no primeiro encontro eu costumo ficar em minha cadeira de rodas, mas um maldito cavalo alado a destruiu acidentalmente e eu não tenho uma reserva. – Ele me lançou um olhar prestativo. – Se você conseguir se levantar eu lhe mostrarei o acampamento e explicarei tudo a você.
Levantei-me e fomos para fora do quarto cheio de camas – hospital, acho –, o carneiro parecia bem aborrecido ainda e não quis nos seguir. Saindo do hospital, passamos por um salão cheio de mesas. O cavalo parou de trotar e eu parei a seu lado.

– Geralmente você assiste a um filme de orientação, mas vou abrir uma exceção para você... – ele respirou fundo. – Bem, meu nome é Quíron e eu não sou um cavalo falante – acrescentou quando eu olhei para ele. – Eu sou um centauro, vou ser seu professor de arco e flecha.
– Desculpe-me, mas você é um cavalo... e fala, isso faz de você um cavalo falante.
– Ok, ok, tanto faz. O importante não é quem eu sou. O que nos importa é quem você é. E não, eu sou um homem com um corpo de cavalo, mas esqueçamos este assunto.
Sua voz se alarmou, o que me fez notar que ele também não gostava de ser chamado de animal falante. Decidi não voltar no assunto.
– Eu sou Gerson – olhei para ele confuso. – Não tem muitos mistérios sobre mim.
Pisquei.
– Não? Você se recorda como chegou aqui?

Balancei a cabeça negativamente. A última coisa que eu lembrava antes de acordar junto com os animais falantes era de estar acampando com minha mãe, mas parecia que tinha acontecido há tanto tempo que eu não saberia dizer quanto tempo fazia exatamente.

– Um monstro o perseguiu. Você saiu com seu amigo, Bruno, o sátiro que você chamou de animal.
Soltei uma risada. Não que o que ele acabara de dizer fosse engraçado, era mais como se eu estivesse tentando aliviar a tensão do que ele falava.
– Mas isso é impossível. Eu estava em minha casa, passando o feriado com minha mãe. Quer dizer, o Bruno ficou no internato... – juntei as sobrancelhas. – Aliás, do que o senhor o chamou?
– Sátiro. Metade homem, metade bode.
– Ah, legal! Aqui todos são metade animais?
– Não meu jovem. Aqui neste acampamento eu sou o único centauro... cavalo falante, se preferir. – acrescentou revirando os olhos. – Já, os sátiros estão aos montes. Seu amigo Bruno é um deles. Eles, digamos, trabalham para o acampamento. Estão em todas as escolas procurando por meios sangues. Você é um semideus, metade homem, metade deus.
Pensei em falar: “ao menos eu não sou metade animal”. Mas pensei que aquilo seria grosseria e falei:

– Ahn, o que quer dizer exatamente?
– Quer dizer que o seu pai é um dos deuses olimpianos... você sabe... Ares, Zeus – um trovão soou ao longe –, Poseidon, entre outros. Os deuses geram filhos e os seus filhos são especiais, tem força superior a dos humanos e no mundo mortal você corre perigo, monstros tentarão matá-lo. Uma Hidra quase conseguiu semana passada. Você ficou inconsciente por oito dias, lembra?
– Vagamente... – Tentei pensar em um monstro gigante, talvez isso ajudasse. Ajudou! – Hidra é um bicho que cospe fogo?
– Não é bem fogo, é mais como se fosse veneno.
– Ahn, acho que me lembro, malmente. Eu estava no quintal, com minha mãe e uma coisa dessas apareceu.
– Você tem sorte de ter sobrevivido. A Hidra lhe atirou por uns cinco metros e você bateu a cabeça em um poste.
– E o que aconteceu com ela?

Quíron coçou o queixo.
– Para falar a verdade... Zeus o ajudou. Ele fez um raio cair bem em cima dela, o que deu tempo para o Bruno trazê-lo para cá em segurança.
Vários trovões caíram. Imaginei se àquilo seria um alerta ou uma frase do tipo: ”Bem vindo, sinta-se em casa.”
– E por que ele fez isso?
– Não sei.
Quíron ficou olhando o vazio. Tive a sensação que ele tinha uma ideia do motivo que levou Zeus a me salvar. Decidi, novamente, mudar de assunto.
– Ahn, e as deusas, não têm filhos?
Dito isto, uma pedra me acertou a cabeça.
– Claro que tem, seu estúpido.
– Controle-se Amanda, ele é novato no acampamento, não sabe nada sobre os deuses.
– Desculpe, novato. – Murmurou a menina chamada Amanda.
Minha cabeça estava girando, minha visão ficou turva e fiquei com falta de ar, mas consegui resmungar:
– Tudo bem, nem doeu.
– Amanda, você leva o Gerson até o chalé de Hermes? – Perguntou Quíron.
– Sem problemas.
– Gerson, como ainda não sabemos quem é o seu pai, você ficará no chalé de Hermes. É lá que ficam os campistas que ainda não foram reclamados pelo pai.
 – Ahn, ok.

Não tive tempo de fazer mais perguntas, Quíron saiu trotando rumo à uma floresta.
Eu e Amanda fomos andando até o chalé do tal Hermes. Lembrava-me vagamente de ter ouvido histórias sobre ele. É o deus dos viajantes, acho. Talvez seja por isso que os recém chegados fiquem lá.
Não conversamos no caminho para o chalé, tinha várias coisas que eu queria perguntar, mas não queria passar a sensação de ser um completo idiota.
Por fim, chegamos ao chalé.
Não era exatamente como pensei. O chalé era bem velho, parecia ter sido construído há séculos. A pintura estava completamente desgastada, havia buracos no assoalho, na porta tinha uma espécie de símbolo: um bastão e, enrolado nele, duas serpentes.

– Está entregue, novato.
Eu não gostava de ser chamado de novato, dava um frio na barriga. O que é estranho. Eu já passei por várias escolas, devia estar acostumado, mas aqui era diferente, tinha a sensação de que se fosse expulso, eu iria ser morto. Pensamento maluco.
– Ér, obrigado.     
                        
Amanda nem me esperou agradecer, saiu correndo assim que me deixou na porta do chalé. Assim que entrei, percebi o quanto estava cansado. Àquela Hidra deve ter me tirado muita energia. Adormeci pensando no dia maluco que eu tive, em tudo que Quíron havia dito, nas coisas que eu iria aprender aqui, em quem seria meu pai. Tudo isso parecia loucura, mas eu tinha a sensação de que tudo aqui era real.

Qual texto merece ser o vencedor?
Texto 1
Texto 2
Texto 3


Boa Sorte!!!